É muito comum esta pergunta em consultório. Geralmente as mulheres ficam apavoradas quando chegam aos 35 anos e normalmente pensam em desistir do sonho em constituir família.
Desde a década de 1980 são realizados estudos que comparam as gestações de mulheres com idade avançada com aquelas que engravidam mais cedo. Em 1986, um estudioso americano chamado William Spellacy publicou em importante revista americana, a Obstetrics and Gynecology, um estudo envolvendo os partos ocorridos em 13 hospitais americanos, avaliando um total de 41.335 partos. Destes, 511 foram em mulheres após os 40 anos. Ao comparar com 26.759 partos de mulheres entre 20 e 30 anos, o pesquisador encontrou uma chance maior de desenvolver pressão alta, diabetes, placenta prévia, óbito fetal, parto cesárea, macrossomia fetal (peso acima de 4 kg), feto do sexo masculino e redução do Escore Apgar (classificação do pediatra das condições de oxigenação do recém-nascido). Essa é a notícia ruim da história. Se você me perguntar, vale a pena engravidar depois dos 40 anos? Eu responderei que sim se o desejo do casal for este. Mas como, se este trabalho mostra todos estes riscos? Bem, vamos analisar os números com cautela. Primeiro, quando o autor separou os grupos de mulheres acima de 40 anos, mas com peso abaixo de 67,5 kg e poucos partos anteriores, os riscos referidos acima não foram significativos. Ou seja, não houve diferença alguma dela ter mais de 40 anos. Em segundo lugar, outros dados mostram que, mesmo fazendo uma avaliação sem esta separação dos grupos, o aumento do risco de complicações foi de 9,6% para hipertensão, contra 2,7% das mulheres entre 20 e 30 anos, 6,7% de diabetes (1,6% no outro grupo), 2,4% de placenta prévia (0,6% no grupo controle), morte fetal de 15,4 em 1.000 nascidos vivos (5,1/1.000 no outro grupo). Ou seja, quando conversamos com as mulheres no consultório, muitas irão considerar estes riscos aceitáveis para que elas possam tentar uma gravidez e a chance maior é de não haver complicações.
No Brasil, também há estudos sobre o tema. Em 2002, George Dantas e colaboradores compararam 57.088 partos ocorridos no Rio Grande do Norte e encontraram maior risco de prematuridade e baixo peso ao nascer para filhos de mulheres acima de 35 anos. Mais uma vez, os riscos não ultrapassaram os 10% (8,4% x 6,5%) quando comparadas às mulheres mais jovens.
Esta discussão remete ao conceito de risco. Quando dizemos que existe risco para algo, não estamos afirmando que o desfecho será invariavelmente ruim. Um artigo, publicado em 2001 na Revista Latino Americana de Enfermagem, aborda o tema do risco gestacional. O autor, Romeu Gomes, com seus colaboradores revisaram 723 artigos publicados, dos quais 40 preenchiam os critérios para a análise. Dentre os artigos, as situações de riscos gestacionais foram divididas em Intercorrências clínicas na gestação (53%), condições biopsicossociais-culturais (19%), História Reprodutiva Anterior (12%), Doença Obstétrica na gravidez atual (9%) e outras condições que foram consideradas como “Resíduo” (3%). O autor faz considerações interessantes: “No caso, ao ser acrescentada a idéia de risco, reforça-se a medicalização e a passividade da mulher frente a algo que possivelmente pode-lhe ser adverso, mas que necessariamente não será”.
Parece que estes conceitos estão chegando cada vez mais na população de uma maneira geral. Atualmente, temos um maior número de mulheres que engravidam após os 35 anos, assim como acima dos 40 quando comparamos com a década de 1980. Naquela época, cerca de 5% das mulheres engravidavam após os 35 anos. Em 2004, Priscila Andrade e colaboradores publicaram estudo apresentando 46% de mulheres grávidas acima de 35 anos, sendo que 10% destas tinham mais de 40 anos. Os resultados são semelhantes aos estudos anteriores quanto aos riscos de complicações durante a gestação.
Para animar ainda mais os casais que pretendem engravidar nesta fase da vida, um pediatra britânico, chamado Alastair Sutcliffe, apresentou em abril de 2011, no Encontro anual da Sociedade Real de Pediatria e Saúde Infantil da Grã-Bretanha, uma análise comparativa entre dois estudos com um universo de 38 mil crianças filhos de mulheres acima de 40 anos. Ele concluiu que estas crianças tiveram menos acidentes abaixo dos 5 anos, precisaram menos internações por problemas graves e as vacinas eram aplicadas no período recomendado do que em comparação a mulheres mais jovens. O único fator negativo destas crianças foi o peso maior.
Muito se fala também dos riscos de síndromes genéticas ou malformações fetais. As alterações genéticas que são relacionadas à idade materna são as trissomias de diversos cromossomos (quando um determinado cromossomo ao invés de ter um par, apresenta uma trinca com na Síndrome de Down). Porém, outras alterações, como trissomias relacionadas aos cromossomos sexuais (X ou Y), monossomias do X (quando só há um cromossomo X) ou até as triploidias (quando todos os cromossomos apresentam uma trinca)nada tem a ver com idade materna. As malformações fetais, sem alterações genéticas, não tem aumento significativo do risco quando comparados com mulheres mais novas.
Têm surgido na imprensa muitas mulheres famosas engravidando depois dos 40 anos. As chances de gravidez espontânea nesta fase são menores, os riscos de complicações são maiores e os cuidados com o filho após o nascimento são melhores. Tendo em vista estas informações, cabe aos casais decidirem se desistem de engravidar, tentam espontaneamente suas gestações ou engravidam com ajuda de técnicas de reprodução assistida.
Prof. Dr. Manoel Sarno
Referências Bibliográficas:
1) William N Spellacy, Stephen J Miller e Ann Winegar. Pregnancy after 40 years of age. Obstetrics and Gynecology 1986; 68 (4); 452-454.
2) George Dantas de Azevedo, Reginaldo Antonio de Oliveira Freitas Junior, Ana Karla Monteiro Santana de Oliveira Freitas, Ana Cristina Pinheiro Fernandes de Araújo, Elvira Malfado Soares e Técia Maria de Oliveira Maranhão. Efeito da idade Materna sobre os resultados perinatais. RBGO 2002; 24 (3); 181-185.
3) Romeu Gomes, Ludmila Fontenele Cavalcanti, Alice Salgueiro do Nascimento Marinho e Luis Guilherme Pessoa da Silva. Os sentidos do risco na gravidez. Rev. Latino-am Enfermagem 2001; 9 (4); 62-7.
4) Priscilla Chamelete Andrade, José Juvenal Linhares, Silvio Martinelli, Marcelo Antonini, Umberto Gazi Lippi, Fausto Farah Baracat. Resultados Perinatais em Grávidas com mais de 35 anos: Estudo Controlado. RBGO 2004; 26 (9); 697-702.
Mães de 40 anos cuidam melhor da saúde dos filhos, diz estudo. Link web: HTTP://www.isaude.net/pt-BR/noticia/16436/geral/maes-de-40-anos-cuidam-melhor-da-saude-dos-filhos-diz-estudo. Abril de 2011.